quinta-feira, 21 de abril de 2022

Ele me ensinou à amar...

 Sem perceber. Nunca tinha reparado, mas por muito tempo eu mendiguei amor. A gente tem essa mania de virar refém das nossas verdades incertas. Lembro que uma vez num barzinho entre os amigos alguém falou sobre os meus textos da época, todos tristes e para a mesma pessoa que não merecia nem mesmo uma linha do meu precioso tempo. Sorri com cara de quem tenta ter paciência com gente que insiste em não entender alguma coisa. Prolonguei a história, argumentei que era só uma fase ruim e que eu iria melhorar. Lembro de perder um pouco a segurança na voz na conclusão da frase, vestida com roupas pretas, de braço cruzado encostada na mesa de madeira. O copo de cerveja em minha frente esquentou e eu não me atrevi a servir mais. Cheguei em casa, coloquei um pijama quente e sentei em frente ao computador. Reli os textos e reafirmei o que eu tinha dito. Claro que era amor, não era drama nem apego. Ele só era uma pessoa difícil, que não sabia expressar sentimentos, que não sabia que algumas atitudes me machucavam, que não sabia que invejar o que eu escrevo não era bacana, que fingia não se importar para a minha vida pausada por um ano por causa da nossa história mal definida. Eu demorei muito para entender que não era o amor da minha vida e que dava para recomeçar outras vezes e de outras formas. Hoje, bastante tempo depois, enxergo a minha sabotagem. A gente tem esse gosto esquisito por sofrer. Coloca o dedo na ferida e cutuca para ver se tem como doer mais. Deposita um caminhão de expectativas em quem a gente supostamente tem certeza que é a outra parte da gente. Depois de muito tempo, quando entende que não era para ser, fica meses de reabilitação. Sem música de trilha sonora, sem filme preferido, sem dança e sem muitos assuntos. Durante esse tempo eu fui um porre de pessoa, dessas que só quer cama e comida. Conversar dava preguiça, conhecer gente era desinteressante e assuntos deveriam ser curtos e rasos. Coloquei a minha dor no centro e passei a fazer translação em torno dela. Demorei tempos para me recompor, até que conheci meu arcanjo. Aos poucos passei a acordar mais disposta, voltei a rir com mais frequência, a me interessar por outras histórias, a abraçar outras causas e a aceitar o meu tempo certo. Abandonei hábitos, rotinas e coisas que eu achei que nunca conseguiria viver sem. Me curei. Esse texto não é sobre recaída e muito menos saudade. É sobre ser o que a gente é. É uma alerta. Sobre parar de boicotar a própria história e rasgar mais o peito. Sobre parar de abrir as feridas. É sobre cicatrizar. Eu voltei. Voltei para contar que ainda dá pra ser feliz e para dizer que eu não entendia nada sobre propósitos e muito pouco sobre o amor. Aprendi a amar à mim enquanto meu arcanjo me ensinava o verdadeiro significado do amor. Ele sabe usar as vírgulas nos lugares certos, ele é cheio de profundidade e verdades, ele acredita e coloca todo o carinho do mundo em cada toque. Ele lê até minha mensagem mais simples de bom dia, ele topa filme com vinho e batata frita, o meu arcanjo não faz questão nenhuma de luxo e da fama. Por isso ele que cabe direitinho na minha vida comum, pois assim como eu, ele sonha com o amor. E eu voltei a escrever para finalizar uma história de tristezas e iniciar uma nova saga de histórias felizes.