terça-feira, 7 de abril de 2020

Devaneios

São sete horas da noite e eu estou deitada em minha cama, pensando que minha vida se passa lentamente, eu diria até parada, diante de meu olhar, sim, é assim que a maioria da humanidade está neste momento à devanear... Me distraio por um momento, olhando o céu estrelado que cobre o planeta como um cobertor, percebo meu cachorro na cama, olhando na mesma direção que eu enquanto suspira para logo depois fechar os olhos, começando um cochilo profundo... Começo então a me perder em pensamentos olhando as estrelas, é estranho o jeito como meu cachorro me trata, ele tem em mim uma espécie de mãe, de guardiã, mesmo sendo tão diferentes fisicamente, mais estranho ainda é como ele parece sentir a melancolia que se instaura no mundo, por ser um animal, suas emoções e sentimentos não deveriam ser inexistentes? Mas a verdade é que não deveria haver limitações para demonstrar emoções, o meu animal de estimação, aparentemente, não se importa com tais trivialidades desta doente humanidade. Ele apenas sente, apenas ama os que estão ali com ele, cuidando dele...
Acaricio sua cabeça ainda olhando as estrelas, enquanto anseio ter a inocência do pequeno cachorrinho adormecido ao meu lado naquela cama, porém, reconheço, há anos não tenho mais tal inocência, isso é uma dádiva dos animas e das crianças no doce período nomeado de infância, sou um adulto falho, sempre há um empecilho, e não importa o quanto batalho, me vejo ao final, de joelhos ao chão, entregue aos meus banais problemas, que eu mesmo insisto em tornar gigantescos, surreais. Porém aceito a realidade, e alguns dias, realmente não são bons na verdade, mas este momento é! Eu estar ali, em paz com meu fiel companheiro, curtindo apenas a sua companhia, enquanto a humanidade vive um caos, é a tradução da mais pura magia.
São sete e meia e somente agora notei que contemplo as estrelas e acaricio meu fiel amigo por meia hora . Indago-me sobre as coisas que poderia ter feito, mas quando me sento em frente ao computador, me pego escrevendo palavras sem fim, descrevendo o momento anterior que ainda habita em mim. E, de verdade, não sei se pretendo encerrar tal texto, afinal, ao que parece, não tem o que encerrar, a minha história ainda acontece. Após meu momento com meu cachorro e a conversa virtual com um amigo sobre o que eu achava ser um “bloqueio criativo”, posso dizer que sinto-me sem amarras, porém, algo em mim, ainda limita tudo o que faço, chego a conclusão vã, que sou alguém livre, que se sente preso.
Alguns dias atrás me senti outra pessoa, ainda que por uma fração de segundos, me sentia incapaz de fazer qualquer coisa, estava uma bagunça inconsequente em meu interior, mas agora simplesmente não me lembro mais do motivo, então, caro ser raro que por algum motivo ainda está a ler, por esta pandemia ou quarentena não se deixe abater, quando me abati, me perdi de tal maneira que ninguém mais conseguia me ver...
Afinal o que de tão tenebroso pode se esconder na sombria escuridão densa? O que faz minha alma ficar de preocupação tão tensa? É tempo de se exilar, tempo de entender, tempo de plantar para futuramente poder colher. Eu sei, em tempos de Fake News, qualquer sabedoria soa de forma boba, qualquer riso de alegria e já ouvimos murmúrios que as pessoas estão loucas.
Sei que após este texto, alguns de vocês irão me chamar de no mínimo alguém estranho, mas na verdade eu me descreveria como singular, busco enquanto olho as estrelas uma liberdade que somente elas podem me dar. E não sei o que será de mim amanhã, mas hoje me orgulho de poder tentar!



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